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8 – Atividades com luz polarizada – Malus, Brewster e polarímetro

1) INTRODUÇÃO 1.1-GeneralidadesEm muitas circunstâncias, a luz comporta-se como uma onda eletromagnética, conforme previsto pela teoria de Maxwell. Como tal, a mesma é constituída por campos elétricos e magnéticos oscilantes transversais à direção de propagação da onda e perpendiculares entre si. Quando o campo elétrico (e, conseqüentemente o campo magnético) oscila em uma única direção, diz-se que a luz é linearmente polarizada, ou plano polarizada (sendo o plano de polarização, por convenção, aquele definido pelas direções de propagação da onda e oscilação do campo elétrico), conforme ilustrado na figura 01.

Fig 01 – Onda Linearmente, Circularmente e Elipticamente polarizada

            Além desse estado de polarização, existem outros. Na mesma figura 01, encontra-se representada uma onda de luz que consiste de duas ondas linearmente polarizadas em direções perpendiculares entre si e com uma diferença de fase f. Polarizada dessa maneira, a luz é denominada elipticamente polarizada porque, em qualquer plano perpendicular à direção de propagação, a extremidade do vetor campo elétrico descreve uma elipse completa no decorrer de cada período. No caso particular de f =p/2, a elipse transforma-se em um círculo e a luz passa a ser chamada de circularmente polarizada. Esse caso é equivalente ao campo elétrico (e conseqüentemente o campo magnético) manter sua amplitude fixa, mas mudar continuamente a sua direção, descrevendo um movimento circular uniforme. Quando essa mudança ocorre no sentido horário (anti-horário), a luz é dita circularmente polarizada à direita (à esquerda). Uma onda linearmente polarizada pode ser decomposta em duas ondas circularmente polarizadas. Existem várias formas de se obter uma luz polarizada, dentre as quais, a polarização por dicroísmo, por reflexão e por dupla-refração. Nas seções seguintes, falar-se-á mais a respeito das mesmas.

 

1.2- Polarização por dicroísmo e a lei de Malus.       Existem materiais, tais como os filmes Polaroid, que são constituídos por moléculas orientadas numa direção preferencial e que, por essa razão, absorvem preferencialmente a luz cujo campo elétrico oscila ao longo dessa direção e, praticamente, não absorvem a luz cujo campo elétrico oscila na direção perpendicular à mesma. Essa propriedade de absorção preferencial é chamada de dicroísmo. Uma luz não polarizada, por sua vez, pode ser descrita como sendo constituída por duas ondas linearmente polarizadas em direções perpendiculares e em fase. Uma dessas direções pode ser, por conveniência, escolhida como sendo a direção de polarização (direção em que a absorção de luz pelo polarizador é praticamente nula). Nesse contexto, conforme ilustrado na fig. 2a, ao incidirmos um feixe de luz não polarizada de intensidade Io num filme polarizador, emergirá do mesmo um feixe de intensidade Io/2 linearmente polarizado.

Fig 02a – Luz se propagando através do polarizador

Fig 02b – Luz se propagando através do polarizador e depois bloquada pelo analaizador

      Se a luz incidente num polarizador já é linearmente polarizada numa direção que forma um ângulo q com a sua direção de polarização, a componente do campo elétrico E na direção de polarização, que será a transmitida, será dada por :         (1) e, conseqüentemente, a intensidade transmitida (que é proporcional ao quadrado da amplitude) será dada por:        (2) A equação (2) é conhecida como lei de Malus. 1.3 – Polarização por reflexão / lei de Brewster

Quando a luz não polarizada incide na superfície de um material refringente, observa-se que existe uma reflexão preferencial para as ondas em que o vetor campo elétrico vibra perpendicularmente ao plano de incidência. Para um determinado ângulo de incidência qb, denominado ângulo de Brewster, observa-se que a luz refletida é linearmente polarizada na direção perpendicular ao plano de incidência e o feixe refratado é parcialmente polarizado, conforme ilustrado na figura 03. Experimentalmente, observa-se que, neste caso, os feixes refletido e refratado propagam-se em direções perpendiculares.. Para um ângulo de incidência diferente de qb, ambos os feixes refletido e refratado são parcialmente polarizados.

 

Fig 03 – Luz se propagando através do polarizador e depois bloquada pelo analizador

            O ângulo de Brewster pode ser calculado diretamente a partir da lei de Snell. Com efeito, tomando como referência a figura 04, temos:        (3) dessa forma, temos que:        (4) Essa última equação é conhecida como lei de Brewster.   1.4 – Atividade óptica             Certos meios materiais são anisotrópicos, ou seja, têm propriedades físicas que variam com a direção, tais como o índice de refração. Tomando como exemplo o caso de um cristal que possui um eixo de simetria, a luz não polarizada pode ser decomposta em duas componentes: uma cujo campo elétrico é paralelo ao eixo de simetria (raio extraordinário), outra cujo campo elétrico é perpendicular ao eixo de simetria (raio ordinário). Essas componentes viajam com velocidades diferentes, já que o índice de refração depende da direção. Esse fenômeno é chamado de dupla refração, ou birrefringência e pode ser usado para decompor a luz não polarizada em componentes linearmente polarizadas. Um caso especial de birrefringência ocorre numa solução contendo moléculas quirais em que um dos enantiômeros encontra-se em excesso. Neste caso, o índice de refração para luz polarizada à direita, nD, difere do da luz polarizada à esquerda,nL. Esta propriedade pode ser usada para explicar a “atividade óptica” de soluções contendo moléculas quirais, que é a propriedade de girar a direção de polarização da luz linearmente polarizada. Conforme discutido anteriormente, a luz linearmente polarizada pode ser decomposta em duas componentes circularmentes polarizadas, uma à direita, outra à esquerda. Se q0 é a direção de polarização da onda linearmente polarizada, a fase relativa entre as duas componentes circularmente polarizadas será 2q0. Após percorrer uma distância L através da solução, a fase relativa entre essas duas componentes sofrerá uma mudança de:             (4) e, como conseqüência, o ângulo de polarização da onda linearmente polarizada será agora qo+Dq, ou seja, sofrerá uma rotação de Dq. Quando nD > nL (nL> nD) a substância é dita levo-rotatória (dextro-rotatória). Como os índices de refração dependem da concentração dos enantiômeros, da temperatura e de l, Dq pode ser descrito de uma forma mais conveniente para uso prático:                            (5) onde  é uma constante denominada rotação óptica específica para a temperatura T e comprimento de onda l e C é a concentração do enantiômero.   2) – OBJETIVOS a) Verificar experimentalmente a lei de Malus. b) Verificar experimentalmente a lei de Brewster determinando o índice de refração de 2 materiais através ângulo de Brewster. c) Estudar o fenômeno da rotação óptica e determinar  para uma dada substância. 3) – PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL a) – Malus:Para a verificação da lei de Mallus, usar a configuração conforme fig. 04 abaixo. Após o alinhamento do feixe com o polarizador, analisador e o detetor, medimos a intensidade variando a direção do eixo do analisador (Absorção), com isto obtemos o gráfico da intensidade da luz x ângulo ( fig 05) que nos permite observar a lei de Malus. Notar a variação da intensidade com o quadrado do coseno.

Fig 04 – Montagem para as medidas (note que o fotômetro esta virado para o laser)

Fig 05 – Curva de Intensidade x Ângulo

b) – Brewster
Com o auxílio de um Laser de He-Ne, (fig 06 e fig 07) determinamos o ângulo de Brewster registrando o ângulo para a mínima intensidade luminosa da luz refletida pela amostra. Anotamos também ângulos antecedentes e posteriores a esse ângulo de mínima intensidade e suas respectivas intensidades para à partir daí construírmos uma curva intensidade luminosa x ângulo e então com essa informação tirarmos o ângulo de Brewster através da derivada desta função.

Fig 06 – Montagem do Laser e um polarizador (deixa-lo em 90 graus)

Fig 07 – Equipamento para medida de Intensidade x Ângulo (note que o fotômetro esta virado para a amostra)

Fig 08 – Esquema da medida de Intensidade x Ângulo

A determinação do ângulo de Brewster pode ser realizada experimentalmente, fazendo-se incidir uma luz polarizada sobre o material em teste. Variando-se o ângulo de incidência e com um detector de intensidade luminosa obtem-se o ângulo para o qual a intensidade é mínima.
Neste experimento utilizou-se como fonte luminosa um Laser He-Ne cuja luz passava por um polarizador antes de atingir a superfície da amostra, o qual esta presa a um conjunto mecânico (Fig 07 e fig 08) com dois movimentos conjugados ( q e 2q ) e acoplado a um goniômetro que dá o valor do ângulo deslocado.

Fig 09 – Gráfico das medidas de Intensidade x Ângulo

c) – Polarímetro

Componentes do equipamento:

Fig 10 – Esquema óptico do Polarimetro Zeiss usado na atividade

1 – Entrada da luz de Na 7 – Analizador
2 – Lente de iluminação 8 – Objetiva para focalização
3 – Filtro de luz 9 – Ocular para visualização.
4 – Polarizador 10- Lupa
5 – Placa 11 – Anel de leitura
6 – Cilindro contendo a solução a ser medida 12 – Parafuso de acionamento da escala

Fig 11 – Polarimetro Zeiss usado na atividade

Coloca-se o pequeno tubo cilíndrico (6), contendo a solução diluída da substância a ser analisada, no interior do polarímetro. A lâmpada de sódio (1) é acesa e pela entrada (2) a luz natural monocromática (amarela), incide sobre o polarizador (4). Ao atravessar o polarizador, a luz emergente, polarizada, atravessa o pequeno tubo cilíndrico transparente (6) com a solução diluída da substância em análise. A luz polarizada, que emerge da solução, atravessa o analisador (7) e incide no olho do observador. Se a luz polarizada ao incidir no olho do mesmo não mudar a rotação do disco graduado, isto é, manter-se em 0º, a substância analisada é inativa por não apresentar as condições para a ocorrência da isomeria ótica (assimetria molecular) ou tratar-se de uma mistura racêmica. Se para a luz polarizada incidir no olho do observador for necessário girar o disco graduado para a direita ou para a esquerda, a substância é oticamente ativa: dextrógira (desvio para a direita) ou levógira (desvio para a esquerda).

Observar a temperatura e a concentração da amostra em medidas comparativas.

4 – RESUMO DO ROTEIRO SUGERIDO
Aquecer o Laser e o fotômetro no mínimo 1 hora antes do início das atividades para a sua estabilização térmica, acender a Lâmpada de sódio para o polarímetro que tambem demora 20 minutos para fornecer o máximo de brilho.
 
a) Malus
– Utilizando um laser He Ne despolarizado incidindo em dois polarizadores (polarizador e analisador) , mantenha o polarizador em 90 graus (polarização horizontal) e varie o ângulo do analisador medindo a intensidade da luz transmitida com um fotodetetor linear em função do ângulo entre os polarizadores, verifique se este comportamento segue a lei de Malus. Pegue leituras ângulares a cada 10 graus.Se for introduzido um terceiro elemento com propriedades de polarizar a luz entre o polarizador e o analisador o que vai acontecer com a curva da fig. 05?
b) – Brewster
– Montar a amostra no suporte com o cuidado de não tocar com os dedos para não suja-la.
– Fazer o alinhamento amostra – Laser , fazendo incidir a luz refletida da amostra novamente na saída do Laser, e registrar a leitura inicial do goniômetro.
– Fazer várias medidas na região de mínima intensidade (pelo menos 15 pontos para depois fazer a regressão polinomial e levantar a equação da curva com boa precisão) com 3 posições diferentes para o polarizador ( 90º polarização horizontal , 80º e 60º)

e) – Polarímetro– Medir o ângulo de rotação da direção de polarização da luz para soluções de uma substância quiral, em várias concentrações diferentes, indicadas pelo professor. A partir destes resultados, determinar o valor de [a]Tl [a]para a substãncia investigada..

 
5 – BIBLIOGRAFIA
– Hecht, Eugene, “Optics“. Adelphi University, Addison-Wesley Publishing Company (1990).
– Francis A. Jenkins and Harvey White, “Fundamental of Optics“, MacGraw Hill. (1976).
– John P. McKelvey and Howard Grotch, “Fisica 4 “, Harbra – Harper & Row do Brasil, São Paulo cap 24 (1981).
– G. R. Fowles, “Introduction to Modern Optics“, Holt, Rinehart and Winston, second edition, New York (1975).
– Ajoy K. Ghatak, “An introduction to the Modern Optics“, (cod. bibl. IFGW 5356411 i).
– Eisberg, “Física – Fundamentos e aplicações“, MacGraw Hil.
– Scientific American Resource Library, “Readings in Physical Sciences and Technology” Vol 3.
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6 – APÊNDICE

Imagens de esforços vistos pela fotoelasticidade:

Fig 12 – Fotoelasticidade

 

Fig 13 – Fotoelasticidade

Fig 14 – Fotoelasticidade

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